quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Que fita , o hiphop salva né não ? Responsável pela tradução do inglês para o português de “Muito Longe de Casa – Memórias de um menino-soldado” , sucesso mundial lançado agora no Brasil, a escritora Cecília Giannetti contou ao G1 o impacto que teve o depoimento de Ishmael Beah sobre ela. Ela também está no evento, em uma mesa sobre as novas caras da ficção brasileira.

  • “Gostei muito de traduzir o Ishmael, só não foi moleza. O texto era simples, mas a história de vida do autor é uma das coisas mais assustadoras que eu já li. Mortes horríveis, tortura - e a noção de que alguém sobreviveu àquilo para contar o que aconteceu, com todo o peso que um passado como o dele pode representar... Passei mal algumas vezes enquanto traduzia. Passei o Natal e o Ano Novo com esse livro, e meu aniversário; foi pesado.
  • O livro conta a megarroubada que foi a primeira etapa da vida do Ishmael. Ele perdeu os pais, irmãos e avós no começo do conflito, na década de 90, e fugiu pelo interior do país dos 12 aos 15 anos, sendo cooptado pelo exército no meio do caminho para lutar armado até os dentes. E não era o mais jovem a soltar o dedo no gatilho e cortar gargantas nos pântanos, movido a uma mistura de brown brown (cocaína com pólvora), maconha, sessões de filmes de guerra hollywoodianos e 'pep talk' estilo lavagem cerebral, repetido pelos comandantes adultos como mantra aos meninos que treinavam: 'Nossos inimigos mataram sua família'.
  • Antes de se unir ao exército para não ser morto por ele, o moleque se salva de ser assassinado duas vezes, por duas tribos diferentes, por ser fã de hip-hop: fugindo da guerra pela floresta, nunca se separa de uma fitinha do RUN DMC que carrega no bolso. Quando é preso e revistado, seus algozes acham a fita e mandam que ele dê uma dançadinha ao som do ritmo gringo, que desconhecem. É aí que Beah se safa, mas ainda teria que sobreviver a muitos ataques dos pelotões inimigos de rebeldes.
  • Ishmael é um dos poucos que foram resgatados do exército e reabilitados por voluntários ligados ao UNICEF. Aos 26 anos, é membro do comitê de direitos da criança (Children's Rights Division Advisory Commitee) da ONG Human Rights Watch, e já falou à ONU e ao Conselho de Relações Internacionais. Mora em Nova York com a mãe adotiva.”

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